Periódico de Trabajo Social y Ciencias Sociales Edición digital |
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Há mais de uma década o debate e a prática
da Responsabilidade Social vêm sendo promovidos e incorporados
no cotidiano das organizações do Brasil. Dentre elas,
interessa-nos, particularmente, as universidades, considerando o
avanço do tema da Responsabilidade Social e o seu potencial,
enquanto instituição de formação e
disseminação do conhecimento, na construção
e efetivação de um novo modelo de desenvolvimento
ambiental, econômico e social. Aliado a esse interesse
sublinha-se que o órgão regulador do ensino superior no
país – o Ministério da Educação e
da Cultura – vem incorporando essa dimensão na avaliação
institucional das universidades. A Responsabilidade Social no contexto das universidades As universidades são as principais instituições educacionais que operam o ensino superior, sendo compreendidas como: “[...] instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano” (BRASIL, 1996, art.52). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Brasil inaugurou um conjunto significativo de mudanças na concepção e na operacionalização do ensino e da gestão acadêmica. No que se refere às mudanças no arcabouço legal do ensino superior, é fundamental apontar para as alterações que vêm sendo processadas nas universidades brasileiras, a partir da criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004. O SINAES é formado por três componentes principais: a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. Esse sistema avalia todos os aspectos que giram em torno dos eixos ensino, pesquisa, extensão, Responsabilidade Social, desempenho dos alunos, gestão da instituição, perfil do corpo docente, instalações, entre outros aspectos. Dentre os objetivos do SINAES, destacamos o seguinte: “promover a Responsabilidade Social das IES, respeitando a identidade institucional e a autonomia” (http://www.inep.gov.br/superior/sinaes). Esse objetivo é desdobrado no artigo 3º da referida lei: “A avaliação das instituições de educação superior terá por objetivo identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões institucionais, dentre elas obrigatoriamente as seguintes: III - a Responsabilidade Social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural” (Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004). O histórico compromisso social das Instituições de Educação Superior e a defesa de ideais humanísticos, na construção de uma sociedade mais justa e democrática encontra muitos pontos de convergência no debate com relação ao seu papel no âmbito da Responsabilidade Social, assim como oferece oportunidades de inovação e elaboração de respostas críticas e criativas, procedentes do tensionamento que a própria realidade, as diferentes compreensões sobre a mesma e essas demandas, provocam. Assim, para além do caráter legalista que a incorporação da Responsabilidade Social passou a ter nas universidades, em função da avaliação do órgão regulador, cabe ampliar a reflexão dessa dimensão. Ao afirmamos que as universidades são organizações que intercambiam com as demais e com a sociedade em geral, isso significa que a sua função vai além da formação de profissionais, do fomento à cultura, da produção do conhecimento e da oferta de serviços de extensão. Isso significa compreender que como organização comprometida com o desenvolvimento social, sua gestão não pode estar restrita ao cumprimento das suas funções precípuas (ensino, pesquisa e extensão), mas com o futuro desse desenvolvimento que passa, evidentemente, pelas suas funções, requerendo significativas mudanças na concepção da sua função social nesse processo de desenvolvimento. No novo modelo de gestão que se desenha para as universidades que se alinham a essa perspectiva, a Responsabilidade Social não é absorvida por uma mera exigência legal, mas pela crença de que a função da universidade pode ser ampliada, tornando-a artífice dos rumos do futuro do país na formação dos futuros profissionais/cidadãos, no fomento a pesquisa e a produção de conhecimentos sintonizados com as reais demandas societárias, com a oferta de serviços extensionistas que se articulem aos demais setores da sociedade e que possam qualificar as ações dos mesmos.
Um dos movimentos que destaca a preocupação com a
incorporação do tema por parte das universidades
encontra-se na Declaração oriunda do Congresso
Internacional de Reitores Latino-Americanos e Caribenhos, organizado
pelo Instituto Internacional para a Educação
Superior na América Latina e no Caribe e pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (IESALC-UNESCO)
e a Universidade Federal de Minas Gerais, ocorrido em 2007, e que
representou o delineamento de políticas de implementação
e desenvolvimento da educação superior.
Aqui se vislumbra a superação das desigualdades
sociais, na qual é condicionada pelos processos globais de
interrelação e interdependência entre países
e regiões, com base nos fundamentos dos novos paradigmas
culturais e tecnológicos que caracterizam a sociedade do
conhecimento. “O
voluntariado e a filantropia, para o compromisso ético com a
justiça social no exercício de direitos; reafirmar o
papel insubstituível dos Estados como garantia do direito à
educação e como responsáveis primários
pela manutenção da Educação Superior;
potencializar a participação e o protagonismo das
Universidades na formulação e implementação
de políticas públicas para o sistema educativo em seu
conjunto, as relações com o mundo do trabalho, o
fortalecimento da universidade pública e o asseguramento da
qualidade dos sistemas nacionais de educação superior.
Outro ponto referido é o pedido aos governos da América Latina e Caribe para se posicionem contra a inclusão da Educação Superior nos Acordos Gerais para o Comércio em Serviços, promovidos pela Organização Mundial do Comércio. Na contrapartida, ficaria a solicitação do funcionamento da Red Latinoamericana de Responsables de Relaciones Internacionales de las instituciones de Educación Superior (RELARIES), como um dos mecanismos de ação para a promoção da internacionalização solidária na região, de forma complementar as Redes e Organismos existentes. Vale salientar que essa Declaração, assim como os apontamentos realizados pelos Reitores para serem discutidos em futuros encontros tiveram como ponto de partida os princípios da Declaração Mundial sobre a Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação. Essa declaração estabelece que: A pertinência da educação superior deve ser avaliada em função da adequação entre o que a sociedade espera das instituições e o que estas fazem; a educação superior deve fortalecer sua função na sociedade, e mais concretamente suas atividades destinadas a erradicar a pobreza, a intolerância, a violência, o analfabetismo, a fome, a degradação do meio ambiente e as enfermidades, principalmente mediante uma abordagem interdisciplinar e transdisciplinar para analisar os problemas e as questões propostas (Declaração Mundial sobre a Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação, 1998:p.24). No marco da Declaração Mundial sobre a Educação para o século XXI, a UNESCO possui um papel de liderança na reflexão mundial sobre a reforma no ensino superior. Através do diálogo entre o poder público, as universidades e demais instituições de ensino e pesquisa, a UNESCO formula estratégias para incentivar o desenvolvimento e a qualidade no ensino, pesquisa e serviços de extensão. Entretanto, a educação superior vem sendo desafiada pelas dificuldades de financiamento e pelo seu acesso, ainda, restrito e controlado. Apesar destes desafios, a UNESCO defende que a educação deve ser acessível a todos no decorrer da vida, sendo necessário assegurar a qualidade independentemente do nível de formação do aluno. Neste aspecto a referida Declaração enfatiza a preservação do rigor científico e a originalidade para manter um nível indispensável de qualidade, sendo o estudante o centro das preocupações, dentro de uma perspectiva continuada, para permitir a integração total de estudantes na sociedade de conhecimento global do novo século. E, também, reafirma o direito à educação, entendido como o direito ao acesso e a permanência. Potencializa o objetivo da universidade, sendo essa uma instituição que tem por missão transmitir e produzir novos conhecimentos por meio de três atividades fundamentais: ensino, pesquisa e extensão, contribuindo com o desenvolvimento social, econômico e cultural de seu entorno. Além desses documentos e retomando o conceito de Responsabilidade Social, com base no Instituto Ethos (2008), as universidades para alinharem sua gestão e prática nessa perspectiva estão demandadas a: rever seus modelos de gestão acadêmica; propiciar o debate com relação a sua sustentabilidade; explicitar sua contribuição com os processos de inclusão social e às novas concepções de educação superior que emergem no compasso das rupturas paradigmáticas que vem sendo implementadas nas organizações como um todo. Destacam-se no atual cenário contemporâneo alguns processos de mudança que impõem às universidades novas/renovadas respostas, tais como:
A incorporação do tema da Responsabilidade Social nas Universidades ainda é recente. Requer que cada Universidade faça a sua discussão interna, amadureça suas concepções, revisite seu planejamento estratégico e, ao optar por essa gestão, crie o seu modelo organizacional de acordo com sua identidade, cultura e posicionamento institucional. A premiação no Rio Grande do Sul: um estímulo às práticas de Responsabilidade Social das universidadesNo estado do Rio Grande do Sul, desde o ano de 2000, há uma Lei que estimula as organizações a desenvolverem e socializarem suas práticas de Responsabilidade Social. A Lei n. 11.440, de 18 de janeiro de 2000, instituiu o Certificado de Responsabilidade Social/RS, a ser conferido anualmente pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul às empresas e demais entidades com sede no Rio Grande do Sul que apresentarem o seu Balanço Social do exercício imediatamente anterior. No artigo segundo da referida Lei, fica conceituado Balanço Social como: O documento pelo qual as empresas e demais entidades apresentam dados que permitam identificar o perfil da sua atuação social durante o exercício, a qualidade de suas relações com os empregados, o cumprimento das cláusulas sociais, a participação dos empregados nos resultados econômicos e as possibilidades de desenvolvimento pessoal, bem como a forma de interação das empresas e de mais entidades com a comunidade e sua relação com o meio ambiente (http://www.al.rs.gov.br). No parágrafo único do artigo 4º da Lei n. 11.440/00 são explicitados os aspectos a serem considerados na certificação do prêmio, sendo indicados os seguintes: “I - Impostos - taxas, contribuições e impostos federais, estaduais e municipais; II - Folha de pagamento bruta - valor total da folha de pagamento, incluídos os encargos sociais; III - Condições de trabalho - higiene e segurança de trabalho, número de acidentes de trabalho e número de reclamatórias trabalhistas; IV - Alimentação - restaurante, tíquete-refeição, lanches, cestas básicas e outros gastos com a alimentação dos empregados; V - Saúde - plano de saúde, assistência médica, programas de medicina preventiva, programas de qualidade de vida e outros gastos com saúde; VI - Educação - treinamento, programa de estágios, reembolso de educação, bolsas de estudos, creches, assinaturas de revistas, gastos com biblioteca, e outros gastos com educação e treinamento de empregados ou seus familiares; VII - Aposentadoria - planos especiais de previdência privada, tais como: fundações previdenciárias, complementações de aposentadoria e outros benefícios aos aposentados; VIII - Outros benefícios - participação nos resultados econômicos, seguro, empréstimos, gastos com atividades recreativas, transportes e outros benefícios oferecidos aos empregados; IX - Contribuições para a sociedade - investimentos na comunidade nas áreas de cultura, esportes, habitação, saúde pública, saneamento, segurança, urbanização, educação, defesa civil, pesquisa, obras públicas, campanhas públicas e outros gastos sociais na comunidade, discriminando, inclusive, o número de horas destinadas por seu quadro funcional ao trabalho voluntário; X - Investimentos em meio ambiente - reflorestamento, despoluição, gastos com introdução de métodos não-poluentes e outros gastos que visem à conservação e melhoria do meio ambiente, inclusive com educação e conscientização ambiental; XI - Número de empregados - número médio de empregados no exercício (registrados no último dia do período); XII - Número de admissões - admissões efetuadas durante o período; XIII - Políticas adotadas visando a diminuir a exclusão de determinados segmentos sociais - descrição sintética de políticas adotadas pela empresa no sentido de diminuir a exclusão social através da admissão social de idosos, deficientes físicos e outros, no seu quadro funcional”. A Lei n. 11.640, de 20 de junho de 2001 alterou a Lei n. 11.440/00, no que diz respeito ao prazo de entrega do Balanço Social. A Mesa da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul em resolução específica, de n. 578/2004, constituiu a Comissão Mista de que trata o art. 5º da Lei n. 11.440/00, composta por representantes de entidades da sociedade civil organizada com o objetivo de planejar o evento anual e deliberar sobre os critérios que norteam a escolha das empresas a serem agraciadas com o Troféu Responsabilidade Social – Destaque RS. O último edital do Prêmio de Responsabilidade Social (2008) apontou como objetivos da premiação: “Estimular o debate público sobre a Responsabilidade Social, reforçando a importância do tema para todo o Estado do Rio Grande do Sul; Estimular a apresentação do Balanço Social pelas empresas, instituições de ensino, entidades governamentais e demais entidades; Difundir a Responsabilidade Social no Estado do Rio Grande do Sul, em todas as representações da sociedade; Agir como mecanismo de reconhecimento aos esforços conjuntos na busca por uma sociedade melhor; Fortalecer, pelo exemplo positivo, o movimento pela Responsabilidade Social empresarial no Brasil, principalmente no Estado do Rio Grande do Sul; Fomentar as empresas gaúchas, organizações não governamentais, cidadãos comuns, veículos e profissionais de comunicação, administração pública, entidades de ensino, estudantes e outras entidades, a adotarem posturas cidadãs, participando de programas ligados ao tema da Responsabilidade Social, que não se limitem à realização de doações filantrópicas; Construir e manter relacionamentos com instituições e organizações que desenvolvam ações ligadas ao tema; Trocar idéias e aprendizagens e disseminar tecnologias sociais com outras empresas e organizações que priorizem o tema; Sensibilizar líderes políticos do Estado e do Brasil, a introduzirem práticas de gestão pública alinhadas com os princípios da Responsabilidade Social; Identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades na construção do bem-estar comum; Incentivar os públicos estratégicos a criarem novos programas de voluntariado, adotando uma postura pró-ativa, de modo que seus programas e iniciativas despertem interesse e participação de terceiros; Tornar o Rio Grande do Sul fonte de referência, através da participação efetiva de toda a sociedade, em ações e programas relevantes ligados ao tema Responsabilidade Social.”
As organizações entregam seus Balanços Sociais mediante o preenchimento eletrônico do formulário constante no site da Assembléia Legislativa (http://www.al.rs.gov.br), adotando um dos modelos ali constantes, conforme o tipo jurídico da entidade. Desde 2004 há um modelo específico para entidades governamentais, fundações, associações, sindicatos e instituições de ensino. Neste mesmo ano, foram instituídos os vencedores pela categoria instituições de ensino. A partir de 2005 as instituições de ensino passaram a ser uma categoria específica a ser premiada. As empresas e demais entidades que desejam concorrer ao Troféu Responsabilidade Social – Destaque RS, em cada categoria, devem entregar juntamente com o Balanço Social, o Relatório de Responsabilidade Social. O Prêmio oferece três tipos de reconhecimento: 1- Certificado de Responsabilidade Social: Entregue a todas as empresas e demais entidades que apresentarem seu Balanço Social e que atingirem a pontuação mínima estabelecida pela Comissão em relação aos indicadores receberão o Certificado de Responsabilidade Social; 2- Troféu Responsabilidade Social – Destaque RS: É concedido às empresas e demais entidades que apresentarem, em cada categoria, o melhor nível de desempenho em termos de Responsabilidade Social, em avaliação procedida a partir do Balanço Social e do Relatório de Responsabilidade Social apresentados e desde que não tenham sido agraciadas com o referido Troféu nas últimas duas edições desta premiação; 3- Diploma Mérito Social: É conferido ao colaborador responsável pelo Relatório Social da empresa / entidade certificada, bem como ao profissional da contabilidade responsável pelo seu Balanço Social. Inseridos na realidade de uma universidade privada gaúcha, pesquisando há cerca de uma década a temática da educação e atuando no âmbito da gestão da Responsabilidade Social, mobilizamo-nos a realizar uma pesquisa que problematizasse a gestão e as práticas de Responsabilidade Social das universidades. Aspectos metodológicos do estudo O tema desenvolvido na referida pesquisa aborda a Responsabilidade Social, tendo como delimitação a sua concepção e gestão nas universidades gaúchas. Para tanto, elaborou-se o seguinte problema de pesquisa: Como as universidades gaúchas concebem e gerenciam a dimensão da Responsabilidade Social nas suas práticas institucionais? Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utiliza um conjunto de procedimentos de pesquisa, envolvendo: análise documental (do estado da arte sobre o tema; da legislação brasileira; de relatórios de Responsabilidade Social e/ou balanços sociais das universidades); entrevistas e/ou questionários com os gestores das universidades. O universo das universidades que foram premiadas pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, através do Prêmio de Responsabilidade Social (Lei n. 11. 440, de 18 de janeiro de 2000), desde a sua criação no ano de 2000 até o ano de 2007, é de 14. A amostra da pesquisa foi composta com base no critério de acesso impresso ou on line aos Relatórios de Responsabilidade das Instituições de Ensino Superior- IES certificadas. Assim, o universo da pesquisa foi reduzido de 14 para 10 IES, sendo que destas 3 possuem relatórios impressos e 7 disponibilizam os relatórios em versão on line O tratamento dos dados vem sendo feito, a partir da técnica de análise de conteúdo, proposta por Pagés et al (1990), tendo por base mapas elaborados, especialmente, para o tratamento dos dados. A seguir, apresentaremos os resultados preliminares da pesquisa utilizando os dados de uma das universidades pesquisadas, ao qual denominaremos de Universidade A. Esses dados foram obtidos, a partir da análise do Relatório de Responsabilidade Social (RRS) da mesma.
Resultados Preliminares: o caso da
Universidade A
Os RRS divulgam o desempenho de uma empresa em nível
ambiental, econômico e social e, comumente, são
compreendidos como um meio de comunicação externa ao
identificar as necessidades de informação dos vários
públicos com os quais as organizações interagem.
Em simultâneo funcionam como instrumento de comunicação
interna, porque transmitem os valores e eixos de atuação
mais importantes da organização, sensibilizando seus
colaboradores para as suas causas e responsabilidades
individuais/coletivas.
Além disso, os RRS são ferramentas de diálogo,
transparência e compromisso, sendo compreendidos como forma de
avaliação da atuação das organizações,
junto aos diferentes stakeholders com os quais interagem,
portanto, ferramentas de gestão que extrapolam o caráter
de comunicação que, tradicionalmente, é adotado
na sua elaboração.
No que se refere aos RRS elaborados pelas universidades gaúchas,
foco deste artigo, é possível observar que das 109
Instituições de Ensino Superior (IES) existentes no
estado, apenas 13% participaram do Prêmio da Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul no período que compreende os
anos de 2000 até 2007. Tal dado pode estar sinalizando que a
gestão da Responsabilidade Social nas referidas universidades
ainda é incipiente e apontando para a importância de
sensibilizá-las para a adoção dessa perspectiva
de gestão.
Fazendo um comparativo das IES gaúchas com as IES localizadas
na Região Sul do país que totalizam 403, constatou-se
que 43 são públicas e 360 privadas. A maioria das IES
da região e do estado são de natureza privada, fato que
se repete no perfil das IES participantes do prêmio da
Assembléia Legislativa gaúcha, pois são
exclusivamente privadas. Contraditoriamente, as IES públicas
não vêm explicitando, com base na referida premiação,
a questão da Responsabilidade Social, embora este aspecto seja
item avaliado pelo órgão gestor das mesmas, através
do SINAES.
Baseado-nos no universo de instituições que receberam o
Certificado de Responsabilidade Social podemos caracterizá-las
da seguinte forma: nove Universidades, dois Centros Universitários
e três Faculdades. No gráfico a
seguir, pode-se conferir a evolução da premiação
desde seu início até o ano de 2007, destacando-se o seu
ápice em 2004:
Gráfico 1 – Evolução
da premiação
Fonte: As autoras com base nos dados: <http://www.al.rs.gov.br>,
2008.
A universidade “A”, foco da socialização
dos dados empíricos deste artigo, foi certificada pela
Assembléia Legislativa por quatro vezes, desde a criação
do Prêmio.Os dados analisados se referem ao RRS do ano de 2007,
tendo como base os mapas quanti-qualitativos elaborados para o seu
tratamento e análise. A universidade “A” utiliza
parcialmente o modelo de RRS do IBASE (2008), destacando-se os
seguintes aspectos:
no item aplicação dos recursos, não é
especificado o investimento feito nas ações sociais
com base no foco ou público-alvo das mesmas, sendo que a
opção da universidade “A” foi pela
totalização do investimento feito nas ações
sociais de forma única;
nos indicadores de corpo funcional foram suprimidos seis itens
constantes no modelo do IBASE e no investimento interno, com base no
modelo ETHOS (2008), três dimensões não foram
descritas, quais sejam:diálogo e participação,
respeito ao indivíduo e trabalho decente, sinalizando uma
provável dificuldade de relação da universidade
com os seus trabalhadores e respectivos dependentes;
nos indicadores apresentados, chama a atenção o
percentual de Portadores de Necessidades Especiais (PNE), que fica
em 0,9% do corpo funcional, o que não atende a legislação
em vigor. De acordo com o artigo 93 da Lei 8.213, de 24 de julho de
1991, uma empresa com número de empregados da universidade
“A”, está obrigada a preencher 5% (cinco por
cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou
pessoas portadoras de deficiência, habilitadas;
no
que se refere aos estagiários, o percentual da universidade
fica em 15%, o que está em conformidade com a nova Lei dos
Estágios (Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008.
De acordo com essa Lei, o número
máximo de estagiários em relação ao
quadro de pessoal é de 20%. Também chama a atenção
o percentual de voluntários que a universidade “A”
informa nesse indicador: 11,2%;
no que se refere às questões de gênero, a
universidade “A” informa possuir 954 mulheres e 716
homens, entretanto, constatou-se diferenças em termos de
remuneração e cargos de chefia, pois embora possua
mais mulheres em seus quadros, o percentual que está em
cargos de chefia é de apenas 25%. A política de
diversidade é informada como política adotada pela
universidade “A”, entretanto, ela se restringe à
inclusão das PNE e de raça. As ações
voltadas para a diversidade são descritas como ações
que contemplam a capacitação e benefícios e não
a adoção de uma política de valorização
da diversidade;
no que se refere aos investimentos externos, a universidade “A”
indica apenas a sua relação com os stakeholders
comunidade, descrevendo ações nas dimensões:
relação com a comunidade e ação social e
meio ambiente. Este último com ações restritas
às palestras de educação ambiental. Não
foram informadas as ações de gerenciamento do impacto
ambiental. Os demais stakeholders: governo, consumidores e
fornecedores não tem ações descritas pela
mesma;
o percentual de recursos destinados para as ações
sociais da universidade “A” fica em 0,13% da sua receita
total, tendo sido beneficiadas 74.483 pessoas da região de
abrangência da universidade. Somada a população
total dessa região, com base nos dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007
(www.ibge.gov.br,
2008), isto significaria o atendimento de 26% da população
de toda a região. As ações e o público,
atingido pelas mesmas, é informado e categorizado pela
Universidade “A” da seguinte forma: Espaços de
Cultura, Ciência e Tecnologia (12.167 pessoas nos Museus e
2.287 no Cine-Clube); Serviço Eventual (3.191 nas assessorias
e consultorias); Exames e Laudos Técnicos (4.875 laudos
emitidos); Atendimento Jurídico (1.730
atendimentos);Atendimentos em Saúde Humana (6.829 exames
laboratoriais e 21.986 outros atendimentos); Projetos de Assistência
Social (21.418 pessoas da comunidade beneficiadas diretamente pelos
projetos). (RRS da Universidade “A”, 2007, p.50);
ausência de descrição das informações
quantitativas no corpo do RRS, dificultando o entendimento
qualitativo das mesmas;
as informações quantitativas e qualitativas no corpo
do RRS apresentam contradições se comparadas com o
modelo de Balanço Social que estamos utilizando nesta
pesquisa – o modelo do IBASE.
Conclusões Preliminares:
A pesquisa em andamento indica a premência da discussão
da concepção e da gestão da Responsabilidade
Social nas universidades em razão do aparato legal que,
atualmente, exige e avalia tal dimensão no sistema brasileiro
de avaliação das universidades (SINAES). E,
essencialmente, pelo histórico protagonismo das universidades
que se colocam como organizações de vanguarda na
criação e disseminação da inovação
em todos os âmbitos.
Os dados empíricos indicam um universo restrito a 13% da
totalidade das IES do Rio Grande do Sul, sendo que essa participação
vem sendo promovida pelas IES vinculadas ao setor privado, ficando a
lacuna da participação daquelas vinculadas ao setor
público.
Com relação à incorporação da
Responsabilidade Social nas universidades gaúchas, com base
nos dados de uma das universidades pesquisadas, constatou-se que a
concepção da Responsabilidade Social tende a
ser vinculada as suas funções, ou seja, ensino,
pesquisa e extensão. Com um destaque mais acentuado para a
extensão, na perspectiva do atendimento às demandas das
comunidades com as quais interage e, majoritariamente, promovendo a
inter-relação com o ensino. Ou seja, as demandas de
formação dos alunos são supridas nos serviços
de extensão e comunicadas pela universidade como ação
de Responsabilidade Social. Neste sentido, caberia indagar: Se essa
não fosse uma demanda de formação dos alunos, a
universidade ofertaria tal serviço? Destaca-se, ainda, na
concepção um distanciamento da perspectiva de ser esta
um modelo de gestão da organização como um todo,
o que fica evidenciado na fragilidade dos dados referentes ao
público-interno e aos investimentos em meio ambiente.
Com relação à prática da
Responsabilidade Social prospecta-se uma reprodução
das ações que, historicamente, as universidades vem
desenvolvendo, com a incorporação de temas importantes
no âmbito dos direitos sociais, tais como: acessibilidade,
diversidade, inclusão social. Entretanto, essa incorporação
não vem associada a um modelo de gestão e, tampouco,
contempla todos os stakeholders que interagem com a universidade.
Assim, a concepção inicial do estudo de que caberia à
universidade promover ações de inovação
social, encontra-se distanciada da realidade dos dados da pesquisa.
Apesar dessas contradições e limites na concepção
e prática da Responsabilidade Social, as universidades
gaúchas, ao elaborarem seus RRS sinalizam a busca pela
aproximação com esse novo modelo de gestão e,
como as demais organizações, encontram-se desafiadas a
superar práticas tradicionais e colocarem-se como modelos de
gestão de referência na sociedade. A universidade
brasileira já rupturou com o encastelamento das suas origens,
restando-lhe, na contemporaneidade, conciliar-se com a sua vocação
para a inovação. Ao fazê-lo, poderá
contribuir no atendimento das demandas sociais e, conseqüentemente,
com o desenvolvimento humano e social do país.
BIBLIOGRAFIA: ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL. Lei n. 11.640, de 20 de junho de 2001. Prêmio Responsabilidade Social 2008. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/responsabilidadesocial/2008/lei.asp>. Acesso em: nov. de 2008. ______. Informações sobre o Prêmio de Responsabilidade Social 2008. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br>. Acesso em nov. de 2008. ______. Lei n. 11.440/00, de 18 de Janeiro de 2000. Certificado de Responsabilidade Social. Disponível em: <http://www.bndespar.gov.br/clientes/federativo/bf_bancos/PR-TRS.pdf>. Acesso em nov. de 2008. ______. Resolução de Mesa n. 578, de 2004. Prêmio Responsabilidade Social 2008. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/responsabilidadesocial/2008/resolucao.asp>. Acesso em nov. de 2008. Brasil. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. Acesso em 07 de jan. de 2009. BRASIL. Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/superior/sinaes>. Acesso em: 17 de setembro de 2008 BRASIL. Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008. Relações de estágio. Presidência da República. Casa Civil. Diário Oficial da União, de 26 de set. de 2008. CALDERÓN, A. I. Responsabilidade Social universitária: contribuições para o fortalecimento do debate no Brasil. Revista da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior, Ano 24 n 36, jun. 2006 – Brasília: Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior, 2006. DECLARAÇÃO DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE REITORES LATINO-AMERICANOS E CARIBENHOS. O Compromisso social das Universidades da América Latina e Caribe. UFMG, Belo Horizonte, Brasil, 16 a 19 set. de 2007. Disponível em: <http://www.ufmg.br/online/arquivos/anexos/Documento%20final%20do%20congresso.pdf>. Acesso em: 17 de set. de 2008 DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO SUPERIOR NO SÉCULO XXI: Visão e Ação. Paris, 09 nov. de 1998. ETHOS. Glossário, 2008. Disponível em: <http://www.ethos.org.br/docs/conceitos_praticas/indicadores/glossario/>. Acesso em: 23 de out. de 2008. ______. Instituto Ethos. Disponível em: <http://www.ethos.org.br.>. Acesso em nov. de 2008. FEIJÓ, J. Glossário, expressões, conceitos, estudos e documentos sobre Responsabilidade Social. Assessoria de Comunicação Social. Secretaria de Coordenação Política e Governança Local de Porto Alegre, 93p. GUIA DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL E CIDADANIA CORPORATIVA. Ano 1, 2005. IBASE. Balanço Social IBASE: 10 anos. Disponível em: <http://www.balancosocial.org.br>. Acesso em: nov. de 2008. MACIEL, A. L. S. A prática do serviço social junto à Responsabilidade Social corporativa. In: XI Congresso Brasileiro de assistentes sociais, 2004, Fortaleza. Anais do XI Congresso Brasileiro de assistentes sociais, 2004. ______. Curso de Gestão da Responsabilidade Social Corporativa. Material didático. Porto Alegre: SESI-RS, 2006. _______________et all. Relatório Parcial da Pesquisa: A concepção e a gestão da Responsabilidade Social: Um estudo da realidade das universidades gaúchas . Porto Alegre: PUCRS, 2009. PAGÈS, M.; BONETTI, M. de; GAULEJAC, V. de; DESCENDRE, D. O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1990. RELATÓRIO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DA UNIVERSIDADE “A”, 2007. SILVA, I. A. da. Universidade e Responsabilidade Social. Revista PUCRS Informação. Ano XXXI, n. 38, mar./abr. de 2008. PUCRS: Porto Alegre, 2008. * Datos sobre las autoras: * Ana Lúcia Suárez Maciel Assistente Social, Doutora em Serviço Social, Professora e Pesquisadora da Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS (Graduação e Pós-Graduação). * Érica M. Bomfim Bordin
* Marisa Camargo
* Viviane F. de Menezes
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