Nascida
em 1990, quando o então presidente dos EUA, George Bush (pai
do atual), anunciou sua Iniciativa para as Américas,
a ALCA começou a ganhar contornos concretos em 1994. Naquele
ano, na cidade de Miami, a Cúpula de Chefes de Estado das
Américas, que reuniu 34 países do continente (a única
exceção foi Cuba, não convidada), aprovou um
plano de ação que previa a criação de uma
área de livre comércio que uniria o norte do Canadá
e o Alasca ao sul da Argentina, passando pela América Central
e Caribe. Estavam lançados os princípios que
fundamentariam a criação da ALCA e que, segundo
o acordo, deverá entrar em vigor no ano de 2005.
As
ONGs e movimentos sociais que pretendem mobilizar as populações
e construir o movimento de oposição à ALCA fazem
questão de deixar claro: não são contra a
integração das Américas. O que elas rejeitam de
maneira veemente é esse modelo que foi construído à
imagem e semelhança dos interesses das grandes corporações
e das empresas transnacionais norte-americanas e que tem como
objetivo principal fortalecer ainda mais a economia dos EUA e a
supremacia do Império do Norte, reservando aos
demais países do continente um papel submisso, marginal e
ainda mais dependente
Quem
disse que a ALCA é o destino natural e irrevogável de
todos os países americanos?, desafia e pergunta Luis
Fernando Novoa Garzon, sociólogo, professor universitário
e membro da ATTAC-Brasil Ação pela Taxação
das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos,
uma das entidades organizadora do Fórum Social Mundial de
Porto Alegre. Crítico ácido e ferrenho da ALCA, ele não
tem papas na língua e coloca o dedo em várias feridas.
A ALCA aprofunda a contradição entre o centro e a
periferia e a recoloca em termos ainda mais hierárquicos,
diz. Suas análises procuram refletir sobre os papéis
que países como o Brasil, a Argentina, o Chile, o México
e a Venezuela podem cumprir diante desse processo assimétrico
de integração. Além disso, ele avalia também
o espaço ocupado pela União Européia e pela
China e as relações que guardam com a ALCA.
Apesar de traçar um quadro bastante complexo e muitas vezes
sombrio, ele não perde as esperanças: Não
há o que temer. Carregamos conosco as melhores energias da
humanidade, o melhor da memória e do imaginário
coletivo para compormos uma outra história e um outro mundo.
FB:Quais
são as principais críticas que o senhor faz à
ALCA?
Luis Fernando Novoa: Primeiramente, é preciso distinguir entre uma
integração hemisférica que, em tese, poderia ser
mutuamente vantajosa, e a ALCA como um projeto econômico e
geopolítico situado em determinado espaço e tempo. A
ALCA real tem duas fontes inspiradoras: o processo de
reestruturação da economia norte-americana, comandado
por suas transnacionais, e o projeto unipolar acalentado pela direita
norte-americana, aquilo que hoje é traduzido como Doutrina
Bush. As críticas devem partir da interpretação
desses macro-interesses e não da crença ou descrença
em proposições abstratas. Para começar, a ALCA
aprofunda a contradição entre o centro e a periferia e
a recoloca em termos ainda mais hierárquicos. As elites
periféricas se dispõem a facilitar a redivisão
hemisférica do trabalho, desde que seus privilégios
fiquem a salvo. Aparentemente já vimos esse filme. A novidade
é que ficaremos presos dentro dele como personagens, ou pior,
como hologramas. Seremos eternos figurantes em papéis
controlados e mais desqualificados.
FB:Embora
seja apresentada como uma área de livre comércio, a
ALCA terá também reflexos nos aspectos político,
social, cultural e ambiental. Nesse sentido mais amplo, que
conseqüências práticas ela terá e de que
maneira poderá afetar o cotidiano das populações?
Luis Fernando Novoa: A ALCA não deve ser vista como algo que será
criado ou que se iniciará em 2005. É antes uma
coroação, o clímax de um processo de desmonte e
desarticulação iniciado há uma década.
ALCA é apenas globalização neoliberal
radicalizada e regionalizada. Por isso nós já estamos
vivenciando uma ALCA de baixo impacto: esvaziamento das
políticas nacionais, abertura comercial não seletiva e
sem salvaguardas, privatizações desarticuladoras das
estruturas econômicas internas, flexibilização
trabalhista sem limites e sempre para baixo, câmbio fragilizado
e dependente de capitais especulativos intocáveis. Em suma, a
ALCA significa o aprofundamento de todas essas ofensivas privatistas
e transnacionalizantes. Não é só
livre-comércio ou comércio desigual. É
a imposição de uma instância transnacional que
estabeleceria novas regras de propriedade intelectual, novos
circuitos de difusão cultural e de informações e
uma nova disposição na oferta privada de serviços
como saneamento, saúde e educação.
FB:Podemos
então dizer que se trata, de fato, de uma tentativa de
construir uma América que atenda aos interesses e vontades das
grandes corporações norte-americanas?
Luis Fernando Novoa: As corporações transnacionais deixaram
de ser apenas atores econômicos. Seu poder financeiro,
tecnológico e de marketing é de tal monta que cenários
são feitos sob encomenda e sob medida. A tentativa de impor o
Acordo Multilateral de Investimentos ao mundo é uma
demonstração disso. Mas, enquanto não se criam
as condições adequadas para a implementação
geral desse tratado, a ALCA é um cenário perfeito para
sua aplicação particular. Para reorganizar os fatores
econômicos e os recursos naturais dos países
latino-americanos segundo suas conveniências, essas corporações
necessitam da garantia de total liberdade dos investimentos,
liberdade para monopolizar. Os espaços de decisão que
afetam nosso dia-a-dia seriam desterritorializados. Os mecanismos de
geração de emprego e renda não estariam mais ao
nosso alcance.
FB:O
Brasil é o verdadeiro alvo dessa empreitada?
Luis Fernando Novoa: Eles sabem bem a importância deste país.
Nós é que menosprezamos nossa capacidade de gerar
riqueza e fartura. Eles sabem que nossa economia é parelha
com a deles, que nossas estruturas são simétricas e não
complementares. Claro, as norte-americanas estão numa escala e
sofisticação infinitamente superiores. Por isso, a
simples liberação do comércio implodiria o que
ainda sobra de estrutura econômica encadeada. No caso
brasileiro, não se trata de volta à colônia. A
reprimarização é a receita que querem impor a
países intermediários como o Peru e a Venezuela. A
incorporação do Brasil não será tão
simples. Lembrem-se que o Brasil tem um mercado de elite comparável
ao dos países europeus. E que aqui pode haver base de apoio
para compartilhar a administração do Império.
FB:De
certa forma, o senhor acha possível e correto afirmar que a
ALCA também representa uma espécie de linha de
continuidade de ideologias como a Doutrina Monroe, que na
prática garantia o direito de os EUA intervirem
nos demais países do continente?
Luis Fernando Novoa: No século XIX, a doutrina Monroe procurou
legitimar a ascensão da potência regional frente às
potências européias, em nome da autodeterminação
dos povos. No século XXI, a doutrina Bush procura legitimar o
poder unilateral da única super-potência, em nome do
combate ao terrorismo. O melhor da tradição
republicana e democrática converteu-se em álibi para um
brutal expansionismo. Confundem e fundem propositalmente os valores
norte-americanos com os valores de toda a humanidade. Alegam
que os interesses dos EUA são os interesses de todo o mundo. O
que dizer da América então? Um território a ser
incorporado, transformado e deglutido debaixo de uma nova ordem
privada e militarizada.
FB:Como
ficam as discussões sobre o tema depois dos atentados de 11 de
setembro? Há um refluxo ou um avanço dos debates?
Luis Fernando Novoa: Os atentados possibilitaram o
desencadeamento de múltiplas ofensivas do Império. São
ofensivas aparentemente engatilhadas, que ficam à espera de um
grande pretexto. Criminaliza-se de um lado para se legitimar
de outro. O inimigo é a mais perfeita máscara
do amigo. O unilateralismo da
administração Bush encontrou sua justificativa no
unilateralismo do terrorismo. Quem não for favorável
a os interesses dos EUA é
contrário os
interesses da civilização ocidental.
Essa chantagem totalitária é
um antigo projeto da direita norte-americana organizada em torno do
Complexo Industrial-Militar. O Afeganistão, o Al Qaeda e o
Iraque são apenas os primeiros nomes na lista do eixo do
mal. Movimentos sociais, guerrilhas, regiões e países
latino-americanos já estão sendo devidamente
classificados pelo Império. Os estratos mais privilegiados do
capitalismo mundial não liderariam as negociações
da ALCA se não houvesse um prévio enquadramento
militar do hemisfério. A assimetria das negociações
invariavelmente precisa ser confirmada pela assimetria da força.
FB:O
império norte-americano encontrou assim uma forma de tentar
barrar o avanço e consolidação da União
Européia?
Luis Fernando Novoa: Para o Império, China e União Européia
são atores que devem ser necessariamente contidos,
neutralizados, de preferência cooptados. Enquanto a União
Européia expressar apenas os interesses dos seus
conglomerados econômicos, não haverá problemas
para os EUA. A Europa é um continente geopoliticamente afônico
pois está sob controle de forças de ocupação
norte-americanas, sob a bandeira da OTAN. As burguesias européias
só conseguem produzir consensos parciais e de curto prazo, daí
a quase paralisia decisória que toma conta de seu processo
integracionista. Como o Brasil pode explorar o duelo dos grandes
interesses? Ocupando o vácuo de poder deixado por eles e
efetuando uma polarização alternativa ao modelo
neoliberal. Acumulando forças não para ganhar no velho
jogo, mas para inventar um novo.
FB:
O senhor citou também a China, um outro peso-pesado que me
parece estratégico nesse jogo de xadrez que é a
geopolítica mundial. Que papel os chineses podem cumprir nesse
processo? A ALCA teria como um de seus objetivos principais evitar o
surgimento de um outro império vermelho?
Luis Fernando Novoa: O mandarinato socialista chinês
negocia qualquer reordenamento mundial, desde que a China fique bem
posicionada nele. O poder bélico chinês também
conta muito na hora de dividir o bolo. Descolado dos interesses
populares, o regime do Partido Comunista Chinês se torna cada
vez mais pragmático. Isso, claro, tem um preço: a
primazia militar no sul da Ásia, incluindo a reanexação
de Taiwan, e um sistema de parceria privilegiada com o capital
estrangeiro que para lá flui. Em troca, oferecem a conivência
ou colaboração com as estratégias sistêmicas
ditadas pelo Império norte-americano, tal como ocorreu na
recente invasão do Afeganistão. A devolução
de Hong Kong, em1997, de Macau, em 1999, e o ingresso da China na OMC
em 2001 são outros elementos que pontuam essa tensa e delicada
negociação entre as duas potências.
FB: Por que razões as populações e os movimentos sociais têm sido colocados à margem de todas essas discussões, fazendo da ALCA uma espécie de coelho tirado das
cartolas das elites e dos círculos iluminados do poder?
Luis Fernando Novoa: A discussão da ALCA implica na avaliação
do modelo de inserção externa do Brasil. As elites
dirigentes não querem tornar público e aberto aquilo
que na prática é uma desterritorialização
negociada. O debate público da ALCA, pela sua
abrangência, nos obriga discutir que Brasil queremos e que
mundo queremos. Isso significa discutir por quê não há
política industrial, por quê não há
expansão da infra-estrutura, por quê a tamanha
fragilização das nossas contas externas. A tecnocracia
e seus patrocinadores não admitem colocar seus interesses em
julgamento. O núcleo de decisão do capitalismo se
considera intocável. Os acertos estruturais que nele se
realizam, inclusive a ALCA, estão se impondo a parlamentos e
governos falidos. A Ditadura das corporações não
nos deixa outra opção senão construir canais e
espaços de democracia direta. O plebiscito é só
o começo.
FB:
E no centro do furacão, o que está acontecendo? Como a
população norte-americana encara esse processo de
integração?
Luis Fernando Novoa: Para as corporações e as grandes
instituições financeiras, a ALCA é o arcabouço
ideal para a reengenharia da economia norte-americana. Quanto maior a
abrangência do jogo, maior a necessidade de cacife. As grandes
agências, então, darão as cartas. Já os
setores econômicos tradicionais temem ser sacrificados em nome
dessa mesma reestruturação. Conclui-se que a ALCA é
antes de tudo um ajuste de contas no interior da economia
norte-americana. A Autorização para Promoção
Comercial (TPA- antigo Fast Track, mecanismo legislativo que
permite ao Executivo dos EUA negociar acordos comerciais com outros
países), aprovada pelo Congresso, representa uma espécie
de acordo possível entre os setores dinâmicos e os
tradicionais. Por isso ele foi inflado com cerca de 340 itens de
exceção. Este acordo do grande capital para privatizar
os benefícios da ALCA pressupõe a socialização
dos prejuízos entre os países latinos-americanos e
também entre a maioria dos trabalhadores norte-americanos.
FB:
Como o senhor avalia a postura e as posições do governo
brasileiro nessas negociações?
Luis Fernando Novoa: O governo FHC representa um conjunto de forças
sociais alheias aos destinos da população e
completamente insensível a seus reclamos. É um governo
que rompeu os anéis que o vinculavam a estruturas econômicas
internas e que voluntariamente se algemou ao capital financeiro
internacional e às corporações transnacionais.
Na
tarefa do desmonte interno, além da tecnocracia
liberal-fundamentalista, contou com a indispensável ajuda de
velhas oligarquias corruptas, em grande parte domiciliadas no PFL,
mas não só nele. A inserção externa do
país, na visão desse governo, deve aprofundar os
vínculos da economia brasileira junto aos fluxos globais de
capitais, investimentos e tecnologia. Tudo estaria certo, desde que
a hidráulica funcionasse nos dois sentidos, o que não
vem acontecendo. O governo FHC vê a adesão do Brasil à
ALCA nos marcos de uma lógica de acomodação
internacional e de negociação de ganhos que são
localizados e setoriais. Quem não tem projeto próprio,
construído a partir da representatividade e da participação
popular, fica à mercê dos projetos alheios. O máximo
que consegue, com muito regateio, é valorizar sua adesão,
isto é, obter compensações. Essa tem sido a
postura do governo. Levanta a voz contra as barreiras que boicotam
nossas commodities e produtos de menor valor agregado, mas aceita
negociar e dá a senha sobre quais devem ser a moedas de troca.
FB:
O senhor acha que o Mercosul deve negociar seu ingresso na ALCA de
maneira coletiva, em bloco, ou cada país deve seguir o seu
caminho?
Luis Fernando Novoa: A sabotagem deliberada do Mercosul pelos governos do
Brasil e da Argentina nos últimos anos torna inócua
qualquer uma das opções. As elites dos dois países
estão se esforçando para provar qual é a que
pode melhor gerenciar os negócios imperiais aqui no sul. O
Mercosul, longe de se constituir um horizonte estratégico para
onde deveríamos focar nossas políticas econômicas,
só tem servido como um lobby qualificado o famoso 4
mais 1 para arrancar algumas concessões dos EUA.
O desmonte programado da Argentina também foi o desmonte do
Mercosul. Surpreendente como a população argentina
manteve-se tanto tempo hipnotizada pelo discurso modernizador
de Menem! Quem diria que um "peronista" concluiria o
processo de sucateamento da economia argentina iniciado na Ditadura
de Videla? O aprendizado demorou, mas pelo menos veio todo, de uma só
vez. A palavra de ordem do piqueteros reflete isso: que
se vayan todos! A população ocupou as ruas e
precisa urgentemente recuperar o tempo perdido, criando formas
associativas autônomas que canalizem toda essa energia
transformadora para uma alternativa de poder na Argentina.
FB:Voltando
os olhos para a América Latina, além de Brasil e
Argentina, há outros três países que são
pedras fundamentais para o fracasso ou sucesso dessa ALCA à
norte-americana o Chile, o México e a Venezuela.
Quais as apostas que eles têm feito?
Luis Fernando Novoa: Os três países representam casos muito
singulares. Prefiro tratar de cada um deles de maneira isolada. O
Chile celebrou um acordo com o Mercosul, mas isso não
significa que queira reorientar os fluxos comerciais privilegiados
que tem com o sudeste asiático, com os EUA e com a Europa.
Como liberalizou sua economia muito precocemente, durante a ditadura
Pinochet, o Chile pôde ocupar nichos vantajosos no mercado
internacional. E, apesar da aparente pujança da economia
chilena, a sua inserção é fragmentária e
não inclusiva. Além do mais, está sempre na
dependência da prosperidade dos mercados mundiais para manter
seu impulso. O senso comum no Chile considera que, se o país
depende tanto das variáveis do comércio exterior, então
o melhor a fazer é fundir-se ao principal centro decisório
do capitalismo: o mercado norte-americano. Temos que mostrar aos
chilenos que esse modelo de desenvolvimento é frágil e
altamente manobrável pela via externa, o que impede qualquer
avanço em termos de justiça social e de democracia
participativa.
FB:
E o México, que inclusive é uma das vítimas
diretas dos efeitos do Nafta?
Luis Fernando Novoa: As elites mexicanas viraram as costas para a América
Latina, para sua história e para o povo que a construiu.
Tornou-se uma economia de maquilas e de plantations à
disposição do Grande Irmão do norte,
que assim pode preencher suas lacunas de suprimentos e reduzir seus
custos gerais de produção, logo ali na fronteira. Os
capitais não precisam se deslocar para a Ásia.
Analistas começaram a dizer, em tom elogioso, que o México
é um novo "tigre asiático", tendo em conta
seu esforço exportador. Mas quem é que exporta,
cara-pálida? As próprias filiais e sub-contratadas das
corporações norte-americanas.... É apenas
comércio intra-firma. O México é uma vítima
voluntária do Nafta desde 1994, por isso tornou-se uma cobaia
perfeita para testar a melhor forma de incorporar o restante da
América Latina. O presente do México é o futuro
que querem nos oferecer. Devemos recusar gentilmente esse prato
apimentado. E apostar na consolidação de um pólo
de poder popular que ecoe de Chiapas para todo o país.
FB:Temos
ainda a Venezuela e o governo de Hugo Chávez, que, mesmo com
todas as críticas que possam ser feitas, representa um
obstáculo aos interesses dos EUA.
Luis
Fernando Novoa :A liderança Hugo Chávez é
resultado das desastrosas e criminosas políticas neoliberais
impostas por Carlos Andres Perez à Venezuela nos anos 90. O
regime Chavez é uma tentativa de recompor alguma margem de
manobra para os setores médios e de grupos econômicos
fortemente vinculados ao mercado interno. A inconsistência
política destes grupos somado ao messianismo dos setores
excluídos recoloca em cena o caudilhismo do tipo vingador. O
que estou dizendo é que Chávez personifica,
ambiguamente, um conjunto de resistências. Essa é sua
força e sua fraqueza.
A concentração pessoal do
poder facilita o trabalho de desestabilização por parte
das elites locais associadas ao Pentágono. O recente golpe
militar patrocinado pelo Governo norte-americano nos fornece uma
amostra daquilo que será a futura administração
do quintal. A CIA e mercenários locais coordenaram uma
operação de criminalização do Governo. A
regra é simples: TODOS QUE SE OPÔEM AO IMPÉRIO
DEVEM SER CRIMINOSOS E TERRORISTAS. É o clássico
expediente de desqualificação das alternativas e de
construção/demonização do inimigo.
Suprimida a resistência venezuelana abre-se a temporada de caça
na Colômbia. A chantagem precisa ser denunciada para não
sejamos suas próximas vítimas.
FB:
Uma outra integração da América é
possível? Qual seria ela? De que maneira seria possível
viabilizá-la?
Luis Fernando Novoa: Estamos conscientes que a intenção
deliberada do estabilishment é eliminar de antemão
outras opções de inserção e integração.
Querem converter uma necessidade particular e circunstancial em
virtude perene e coletiva. A opção deliberada, de
repente, vira algo "irreversível". Quem disse que a
ALCA é o destino natural e irrevogável de todos os
países americanos? O papel do Brasil neste novo milênio
é apresentar uma rota de fuga da ALCA que seja o roteiro de
integração alternativa de toda a América Latina.
Não há o que temer. Carregamos conosco as melhores
energias da humanidade, o melhor da memória e do imaginário
coletivo para compormos uma outra história e um outro mundo.