WASHINGTON, 1º de outubro de 2001-
Os ataques terroristas de 11 de setembro nos
EUA vão prejudicar o crescimento econômico nos países em desenvolvimento no
mundo inteiro durante 2001 e 2002, e condenar uns 10 milhões mais de pessoas a
viver em estado de pobreza no próximo ano, dificultando a luta contra as doenças
infantis e a malnutrição, declara o Banco Mundial numa avaliação econômica
preliminar que foi divulgada hoje.
Antes de 11 de setembro, o Banco esperava que o crescimento nos países em
desenvolvimento diminuísse do nível de 5,5 por cento em 2000 para 2,9 por cento
em 2001, devido à desaceleração verificada nos EUA, no Japão e na Europa, e que
depois voltasse a subir para 4,3 por cento em 2002. Mas, tendo em conta que os
ataques vão retardar a recuperação nos países ricos até ao ano de 2002, o Banco
adverte agora que o crescimento dos países em desenvolvimento poderá ser
0,5-0,75 menor em pontos percentuais em 2002.
"Presenciamos perdas humanas causadas pelos ataques recentes perpetrados nos
EUA, os quais causaram a morte de cidadãos de aproximadamente 80 países em Nova
Iorque, Washington e Pensilvânia, declarou o Sr. James D. Wolfensohn, Presidente
do Banco Mundial. "Mas há outras perdas humanas que praticamente não se vêm e
que se farão sentir em todas as partes do mundo em desenvolvimento,
especialmente em África. Calculamos que umas dezenas de milhar adicionais de
crianças morrerão em todo o mundo, e que 10 milhões mais de pessoas
provavelmente viverão abaixo do limiar de pobreza de US$ 1 por dia devido aos
ataques dos terroristas. Isto é apenas devido à perda de renda. Imensas pessoas
mais irão cair na pobreza se houver uma ruptura das estratégias em prol do
desenvolvimento."
As Conseqüências Sentem-se no Mundo Inteiro
Antes da crise, o Banco calculara que os EUA e outros países da OCDE iriam
crescer em 1,1 por cento em 2001, e recuperar para 2,2 por cento em 2002. Mas
agora as taxas de crescimento do PIB nos países da OCDE poderão ser inferiores,
entre 0,75 e 1,25 pontos percentuais em 2002. E isso na hipótese de os negócios
retornarem ao normal o mais tardar até meados de 2002, de os consumidores
reagirem às taxas de juro mais baixas, como fizeram na última recessão, e de
mais nenhum novo acontecimento vier abalar a economia mundial.
Já há indícios de que os custos mais elevados e a atividade econômica reduzida
estejam a amortecer o comércio mundial. Os custos dos seguros e da segurança e
os atrasos na liberação das mercadorias na alfândega são alguns dos fatores
principais que levam a aumentar os custos do comércio. As principais companhias
de navegação, por exemplo, incrementaram entre 10 e 15 por cento as taxas de
frete das mercadorias para a Índia.
Os fluxos comerciais relacionados com o turismo estão a sofrer um golpe
particularmente duro. O impacto imediato sobre o Caribe é tal que 65 por cento
das reservas de viagens de férias no Caribe foram canceladas. O Oriente Médio
vai provavelmente sofrer um declínio acentuado das receitas provenientes do
turismo no próximo inverno.
As repercussões dos ataques de 11 de setembro vão afetar diversos grupos de
países em desenvolvimento de maneira diferente, segundo a vulnerabilidade
particular de cada um deles. Para os países mais pobres que vão estancar ou cair
na recessão devido ao declínio das exportações, do turismo, dos preços das
mercadorias ou do investimento estrangeiro, o número de pessoas que vivem com
menos de US$ 1 por dia vai aumentar. Nos países que têm um crescimento positivo
mais lento, menos pessoas vão poder sair da pobreza do que normalmente teria
acontecido.
O crescimento mais lento e a recessão vão afetar as pessoas mais vulneráveis nos
países em desenvolvimento com mais violência. O Banco calcula que um número
adicional entre 20.000 e 40.000 de crianças com menos de cinco anos de idade
poderá falecer devido às conseqüências dos ataques de 11 de setembro, à medida
que a pobreza for piorando.
Ao fugirem os investidores para refúgios seguros, o fluxo de capitais para os
países em desenvolvimento, já débil, vai decrescer ainda mais e concentrar-se de
maneira crescente nos países considerados relativamente imunes à crise. O padrão
estabelecido na década de 1990 de os fluxos de capitais privados serem
responsáveis por uma parcela muito maior das necessidades de financiamento dos
países em desenvolvimento, de menos risco, deverá inverter-se a curto prazo, à
medida que o capital social e as atividades de crédito se contraírem nos países.
Isso vai requerer um apoio intensificado de fontes oficiais bilaterais e
multilaterais, para suprir as necessidades de financiamento de um número
crescente de países em desenvolvimento.
Fora dos EUA e dos países da OCDE, as repercussões dos ataques de 11 de setembro
vão se fazer sentir em todas as regiões do mundo, especialmente nos países que
dependem do turismo, das remessas de populações que vivem no exterior, e do
investimento estrangeiro.
A área mais afetada vai ser a África onde, além do aumento possível da pobreza
para 2 a 3 milhões de pessoas como resultado de um crescimento e uma renda
menores, outros 2 milhões adicionais de pessoas poderão estar condenadas a viver
com menos de US$ 1 por dia devido aos efeitos da queda dos preços dos produtos
primários. Os preços dos produtos primários, segundo as previsões, deverão
baixar em média 7,4 por cento este ano, e provavelmente cairão ainda mais devido
aos acontecimentos de 11 de setembro. Os fazendeiros, os trabalhadores rurais e
outros, cuja atividade está ligada à agricultura, vão suportar a maior parte do
ônus.
As viagens e o turismo representam quase 10 por cento das exportações de
mercadorias da região e provavelmente também sofrerão uma ruptura. Os 300
milhões de pobres na África Subsariana são particularmente vulneráveis porque a
maioria dos países dessa região têm poucas ou nenhumas redes de segurança
social, e as famílias pobres têm poupanças mínimas para as proteger contra as
épocas difíceis. Cerca de metade dos óbitos infantis adicionais no mundo inteiro
ocorrerão provavelmente na África.
Os preços do petróleo são atualmente de US$ 22 por barril, ou seja, US$ 5 por
barril menos do que imediatamente antes de 11 de setembro, depois de ter subido
brevemente após os ataques. Os preços dos produtos não petrolíferos também
diminuíram. Muitos futuros agrícolas decresceram 5 por cento desde os ataques.
Esses declínios vão provavelmente levar à redução dos preços dos produtos
primários, os quais serão 3 por cento mais baixos para os produtos agrícolas e 5
por cento para os metais no próximo ano. Estes preços nunca recuperaram os
níveis verificados antes da crise da Ásia Oriental de 1997-1998, e agora foram
novamente afetados por mais uma mudança desfavorável da conjuntura mundial. No
caso das economias que dependem das exportações de produtos primários,
especialmente os exportadores de algodão e de bebidas, isto prenuncia um abalo
potencialmente grande das razões de troca muito superior ao impacto de um
crescimento mais lento do PIB.
A Ajuda, o Comércio e a Política São Fundamentais para Suster a Luta contra a
Pobreza
A avaliação do Banco vai ser submetida a uma revisão nas próximas semanas,
dependendo da maneira como se desenrolarem os acontecimentos. Mas o Sr. Nicholas
Stern, Economista Principal do Banco Mundial, sublinha que tanto os países ricos
como os países em desenvolvimento devem demonstrar vigor e estar vigilantes para
assegurar a inversão da tendência negativa da economia no próximo ano e um
recrudescimento dessa tendência até 2003.
"As respostas de política têm que ser rápidas e um pouco mais ousadas nos países
ricos e pobres devido ao nível mais alto de risco para a economia mundial - e os
países têm que estar vigilantes porque as incertezas associadas aos
acontecimentos políticos e militares futuros são inusitadamente grandes," afirma
o Sr. Stern. "Manter o comércio mundial é mais importante do que nunca,
especialmente perante uma conjuntura desfavorável da economia que muitas vezes é
acompanhada por pressões no sentido de um maior protecionismo."
Várias medidas são cruciais para manter a luta mundial contra a pobreza na
seqüência dos acontecimentos de 11 de setembro:
- Impulsionar a Ajuda Externa - Os fluxos de capitais privados para os países em
desenvolvimento estão a diminuir acentuadamente, invertendo a tendência
verificada na última década. Segundo as estimativas, eles vão diminuir de US$
240 bilhões de no ano passado para US$ 160 bilhões de estimados para este ano.
Isso faz com que seja ainda mais imperioso que os governos aumentem a ajuda
oficial para preencher essa brecha. Atualmente as ajudas são apenas 0,22 por
cento do PIB dos países da OCDE, o que é muito menos do que a meta de 0,7 por
cento decidida pela comunidade internacional. O trabalho do Banco sobre a
eficácia das ajudas demonstra que a ajuda bem dirigida, combinada com esforços
firmes em prol das reformas, podem reduzir muito a pobreza, e também podem
minorar os efeitos especiais das crises, como os abalos às razões de troca.
- Reduzir as Barreiras ao Comércio - Agora, mais do que nunca, a reunião de
cúpula da OMC tem que ir avante, e tem que ser uma ronda dedicada ao
desenvolvimento, que seja motivada principalmente pelo desejo de utilizar o
comércio como um instrumento para reduzir a pobreza e para o desenvolvimento.
Uma liberalização substancial do comércio como essa proporcionaria uma renda
cumulativa adicional nos países em desenvolvimento de uns US$ 1,5 trilhões
durante uma década.
- Mais Coordenação - Os principais países industriais vão provavelmente ter um
impacto positivo maior se as suas políticas seguirem no mesmo sentido que
seguiam imediatamente depois dos ataques. Instaurar uma coordenação adicional na
conduta da política econômica, especialmente da política monetária, poderia
ajudar a conter os grandes abalos no sistema financeiro mundial. Além de
depender de estabilizadores automáticos tão importantes, a política fiscal terá
que ser melhor direcionada nos próximos meses, especialmente na prestação de
assistência aos grupos de renda baixa e às regiões afetadas, os quais vão sentir
com mais probabilidade o choque imediato de uma desaceleração e ruptura.
- Criar um Consenso Social em Torno da Continuação das Reformas - Apenas um
número limitado de países em desenvolvimento pode adotar uma política
macroeconômica contracíclica. A maioria dos países são demasiado pequenos para
contra-atacar os abalos importados, e muitos vêm-se perante uma capacidade
limitada de financiamento. Para esses países, as reformas aceleradas com vista a
melhorar a conjuntura do investimento poderão ajudar a encorajar o investimento
interno e externo durante este período de grande incerteza. O financiamento
adicional das instituições financeiras internacionais poderá ajudar a
implementar programas em prol dos pobres e a conseguir, direta ou indiretamente,
mais investimento privado.
O Apoio do Banco Mundial
O Banco Mundial está pronto a fazer aquilo que lhe compete. Os diretores e
funcionários - dos quais muitos estão estacionados nos países - têm estado em
contato com as autoridades superiores em todos os países seus clientes para lhes
assegurar o comprometimento continuado do Banco em prosseguir os programas
anteriormente decididos, e lhes oferecer ajuda para minimizar e minorar os
efeitos negativos da incerteza, dos riscos e da instabilidade acrescidos na
atual conjuntura econômica mundial.
Estão a ser empreendidos trabalhos para avaliar as necessidades segundo os
países. Está a ser prestada atenção especial à África, tendo em conta a pobreza
extrema e a vulnerabilidade à diminuição dos preços dos produtos primários de
tantos países da região. Está a ser revisado o programa da IDA, inclusive um
eventual alívio da dívida no âmbito da Iniciativa para os Países Pobres Muito
Endividados (PPME), e a Corporação Financeira Internacional está a prestar
atenção especial aos seus programas na região. Os países em outras partes do
mundo - especialmente aqueles que foram diretamente afetados por um maior
influxo de refugiados ou a diminuição das receitas provenientes do turismo -
também estão a receber uma atenção especial.
Simultaneamente, o Banco está a rever os seus instrumentos de crédito e recursos
financeiros para ver como poderão ser melhor aplicados nas atuais
circunstâncias. O cardápio de respostas provavelmente incluirá uma política de
rápido desembolso - de créditos dedicados à política de ajuste,
empréstimos/créditos de recuperação de urgência, e suplementos aos
empréstimos/créditos existentes, destinados a proteger os programas essenciais.
Também estão a ser consideradas medidas tendentes a conceder novos créditos para
investimento e para restruturar a carteira de empréstimos, a fim de direcionar a
assistência às prioridades emergentes e proteger os programas em prol dos
pobres.